domingo, novembro 20, 2016

Sei Que as Ruas São Torpedos


Sob os escombros dos impérios a persistência
Dos dias adiados. Gestos macerados
Em estridência de bronze
Nos golpes desferidos.

Cortinas embora que incautos tempos
Vão abrindo. Escudos na intermitência dos golpes.
Por agora.

Os heróis - dizem-me - estão gastos.
Respiram a poeira das cavalgadas e míticas auroras.
E o acaso dos dias...

Sei no entanto do esplendor das coisas possíveis
E da decantação das horas.
E que o perfume das madrugadas
Se alimenta desta espera.
E deste húmus.

E da fumegante audácia que germina
Na grandeza de promessas
– Enfim! - traídas.

E nestes cardos que os ventos soltam
Em redemoinho. Como espinhos...

E sei ainda que lâminas e cânticos se afinam.
E que o abraço escorre nos humanos ombros.
E os pulsos se rasgam. E o sangue lateja.
E que as agruras são semente.

E os caminhos se desbravam.
E sei que as ruas são torpedos quando rios
E flâmulas se incendeiam...

Manuel Veiga

In “Do Esplendor das Coisas Possíveis”- págs. 122/23
Poética Edições – Abril 2016









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