terça-feira, abril 29, 2014

HANNIBAL, O POSSIDÓNIO


"Hannibal, o possidónio,
dado a raivinha de dentes
lembra-me sempre um António,
Oliveira para os crentes...


Valeu a este a cadeira
de três pés sem ser tripeça...
Ao outro... não há maneira:
nem sai, nem cai, nem tropeça!


De «vistas curtas», então,
acusa tudo em redor;
mas algum míope anão
do que ele vê bem melhor..."



segunda-feira, abril 28, 2014

FECUNDAS SERÃO AS RAÍZES...


Fecundas serão as raízes no coração dos homens
Onde a delicada flor se incendeia
E as bocas ardem na busca milenar
Dos dias solares...

Então as espadas serão apenas ondulantes flâmulas
No olhar festivo das crianças.

E a justiça o gesto puro de colhê-la.

Antes porém será o cântico da terra revolvido.
E o sangue e a raiva.
E mil abris desfeitos.

E os ventres inflamados da fome.

E o grito das flores decepadas pelo caule
E os dias ardidos.
E o voo quebrado das asas.

E todas as estradas de Damasco
A aridez dos desertos.

A vertigem dos sons virá, porém, atroar os ares
Como trombetas percursoras da grande catástrofe
Onde se desempenhem os deuses e heróis de outrora
E a luz e as trevas.

E os negrumes e sedes de agora.

E toda a História será vã.
E todos os símbolos.

Fecundas serão então as raízes.
E a Pátria dos homens o ardente coração
Das trevas. Resgatadas.

Manuel Veiga

 

domingo, abril 27, 2014

NOTÍCIAS DE BABILÓNIA LVII

 “Vistas curtas!...” – proclama Hannibal, o possidónio, salivando raivinhas...

Em Babilónia, porém, tudo mingua. Apenas cresce a fome e a miséria – e o mofo de Hammurabi...

Ao que consta, a praça acorda e agita-se...

Babilónia tem Memória e desce à rua. Os babilónios querem uma alternativa - jamais uma “União Nacional”...
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E um velho reformado, dividindo a manta (aliás curta) – “Aceita, filho! – vamos à luta!...”
 

quinta-feira, abril 24, 2014

SEARA NOVA - nº 1727 - Primavera 2014


Para além do Editorial, de destacar neste número da SEARA NOVA, comemorativo dos 40º aniversário da Revolução de Abril, o artigo "Uma Questão de Dignidade" do Almirante Martins Guerreiro, prestigiado "capitão de Abril" e a "Reflexão sobre o 25 de Abril" pelo Professor José Barata Moura, Catedrático da Faculdade de Letras da UL, bem como depoimento do Dr. António Arnault, "Saudades de Abril", e o depoimento do Professor Borges Coelho , "Louvor da Desobediência"

De salientar ainda a colaboração do Professor Mário Vieira de Carvalho,  Catedrático da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da UNL, "Fundamentalismo  neoliberal e apartheid cultural" e  do Professor Sérgio Ribeiro, economista, "Há 40 anos, a economia" e também a colaboração do Professor Carlos Pimenta, da Faculdade de Economia do Porto, "Tópicos sobre a caminhada portuguesa para e na CEE"

De assinalar também o artigo
da jornalista e professora universitária Helena Neves 
"40 anos de caminho para as mulheres - Mas e Agora?"


Tudo boas razões para
LER - ASSINAR - DIVULGAR a revista
SEARA NOVA!



quarta-feira, abril 23, 2014

NOTÍCIAS DE BABILÓNIA LVII


Hannibal, o possidónio, anda de raivinha afiada. Os arautos proclamam que Babilónia nada lhe deve – apenas o desastre!...

Então, o “homem do leme”,  sinuoso, tropeçando na língua, cospe veneno contra os adversários: “Faits divers, apenas! Deixe-nos trabalhar...”

A praça, carregada de memória, agita-se... Hammurabi, o legislador, inquieta-se. E invoca o “deus-fetiche” – os Mercados!...
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E um velho soldado, ébrio de Utopia: “O Povo é quem mais ordena! Babilónicos, ocupemos o palco, antes que seja tarde!...”

 

 

sábado, abril 12, 2014

HÁ NESTA MEMÓRIA...


Há nesta memória uma inóspita dor. Subterrânea.
Ou talvez uma gravidez calada.
E um rastilho aberto (ainda não fogo).
E um murmúrio de água que se deslaça do interior da pedra
Antes da fonte. E os dedos de colhê-la.

Ou a sede que se pressente
Neste arfar. E no desalinho da cidade...

Há nesta espera um novelo
Que os olhos desfiam. Gota a gota...

E há um estio bravio. E uma inquietação que lampeja.
E uma dor que se faz canto e uma centelha
Que almeja. E o fio oculto da chama.
Ou um grito.

Há talvez um dia outro - que a memória se desprenda!...
Ou uma brisa. Que incendeia. Ou um mar. E gente
Sofrida que não cala.

Há talvez alamedas. Míticas e cheias.
E flores no cântico das armas.

Que então a pedra seja chama. E as praças sejam parto.
E os corpos se incendeiem.
E a água seja cântico.

E Abril seja límpido. E claro.
E a justiça viceje no rosto do meu Povo.
E na boca dos famintos...

Manuel Veiga
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25 de Abril, Sempre!...

Beijos e abraços.
Até breve...

 

quinta-feira, abril 10, 2014

NOTICIAS DE BABILÓNIA LVI



Babilónia mergulha em glória – e em erudição!...
Aos babilónicos, que pedem pão, Hammurabi, o legislador, dá-lhes circo – político!...

E aos recalcitrantes manda dizer, numa língua bárbara: “Hammurabi locuta, causa finita!” - ou seja, “Hammurabi falou, está tudo dito!...”

A Praça pasma com a sábia sentença – e os babilónicos descem mais um degrau na penúria...
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E um velho mestre-escola, roído de cólicas e amarguras ácidas: “quosque tandem, Hammurabi, abutere patiencia nostra?... “ (até quando, Hammurabi, abusarás da nossa paciência?)
 

segunda-feira, abril 07, 2014

ERA TEMPO SEM TEMPO...


Era um tempo sem tempo, como se a garganta
Fosse o grito em profusão de mil ecos
Na serenidade do vale.

Ou pássaro milenar em vertigem do voo

Os insectos sorviam o néctar e as azedas
Línguas crespadas na acidez da ceia
Que a lonjura retardava – o caminho era ainda
Não regresso...

Antes era passo alongado em cadência breve
De sol macio.

As giestas fervilhavam em zumbido amarelo
A que a brisa dava asas e se infiltrava
E descia sob os fios dourados de meus olhos
Como inesperado manto em régios ombros.

Grinaldas de açucenas que o açude toldava
Na distância de colhê-las. Apenas o olhar as desenhava.
 - Imperecíveis na memória de meus dias.

E a água. E a cantata. E o sobressalto dos sonhos
Como inquietos potros. Míticos.

E o esplendor de mirtilos. E a festa dos sentidos
Em explosão de Primavera.

Manuel Veiga

 

sábado, abril 05, 2014

EM SEARA ALHEIA ( de Versos)



Ainda temos nas mãos
A força e o espanto
A raiz de um querer tanto
A esta terra, no peito


Ainda temos nas mãos
A maresia e o sal
Dos nossos avós marinheiros
Que espalharam pelo mundo
Raízes de Portugal


Ainda temos nas mãos
Um canto para florir
Nas cordas de uma guitarra
Um chão que se quer cumprir
Numa nova madrugada.


Ainda temos nas mãos tanto mar,
Tanta alma, tanto espanto...


Lidia Borges - in Sementes Daqui - Poética Edições


(agradável convívio a apresentação em Lisboa, do livro de poemas da Lídia Borges  "Sementes Daqui" - parabéns, Lídia)





quarta-feira, abril 02, 2014

NOTÍCIAS DE BABILÓNIA LV


Em Babilónia apenas as palavras são pródigas – todo o resto fenece...

Dizem mesmo os magos que a cidade será em breve apenas coitada de velhos - esquálidos...

Entretanto, o que ontem era verdade é hoje mentira – e o provisório torna-se definitivo!...

Hammurabi, o legislador, manda calar os recalcitrantes, garantindo-lhes que andaram anos a “viver acima das suas possibilidades”. Uma rotunda verdade – de facto, os babilónicos viviam no luxo de amassarem o barro e poderem fazer filhos!...

E não devem!... Que a sábia palavra de Hammurabi é o resgate - e a infalível redenção do futuro!...
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E um jovem menestrel, em jeito de fado: “as palavras estão gastas/são odre vazio/é a luta dos homens/que lhes dá o sentido...”

Sem Pena ou Magoa

  Lonjuras e murmúrios de água E o cântico que se escoa pelo vale E se prolonga no eco evanescente…     Vens assim inesperada me...