terça-feira, março 06, 2012

UMA QUESTÃO DE "COJONES"...

Há expressões que são mais que elas próprias. E atitudes que se ultrapassam e cujo sentido e alcance excedem os adjectivos que as possam qualificar. Quando assim acontece há que reinventar a linguagem para melhor as designar e apreender a plenitude do seu significado.

Na vida deparamos, por vezes, com alguns destes exemplos, que subvertem a ordem do previsível e que, por isso, contribuem para que mantenhamos, neste mar de bruma monocórdica, alguma capacidade de nos surpreendermos. E, então, a linguagem assume-se, em seu desbragamento, como festiva subversão do quotidiano...

Como compreendem, vêem estas linhas, a propósito do título que escolhi para esta crónica, como que a justificar perante mim próprio, não o machismo, porquanto há muitas mulheres “que los tiénen en su sitio”, mas a grosseria, ainda que mediada pelo arremedo da doce e expressiva língua castelhana.

De facto, hão-de reconhecer que os ditos “cojones” vêem muito a propósito e que dificilmente encontraria melhor expressão-síntese para aquilo que, nas linhas subsequentes, tenho para vos dizer.

Refiro-me, como por certo já deram por conta, à ousadia do primeiro-ministro espanhol em dizer alto e bom som, aos senhoritos de Bruxelas que não está na disposição de cumprir as metas do deficit 4,4%, mas que ficará pelos 5,8%, porque o objectivo acordado seria “dramático para Espanha”.

E o picante da questão não está apenas na desabusada decisão, que deve fazer empalidecer de raiva a senhora Merkel. É que o senhor Rajoy, não apenas se propõe não cumprir as metas do deficit para este ano, como é categórico a afirmar que não deu, “nem tem que dar conhecimento aos parceiros europeus”. Traduzido por miúdos, o que o presidente do governo espanhol está a dizer é que não aliena às instâncias comunitárias o último reduto de soberania do Estado, que é a soberania orçamental.

Eu sei, eu sei... Mariano Rajoy é um conservador, recentemente chegado à presidência do governo do seu País e plenamente imbuído da ortodoxia liberal, que domina o pensamento económico e político na União Europeia.

Por isso não tenho dúvidas que as metas de consolidação orçamental negociadas com Bruxelas serão cumpridas e o aperto de cinto dos espanhóis se irá agravar, como aliás o próprio teve o cuidado de esclarecer. Mas sê-lo-á nos termos e nas condições que Espanha quiser, não nos termos em que a União Europeia e a senhora Merkl ditarem. O que, nos dias que correm, não é coisa pouca...

E por cá? Nós por cá todos bem. A recessão económica agrava-se, o desemprego aumenta, a pobreza e a miséria alastram. Mas a água (pouca) continua a correr debaixo das pontes e “o Álvaro” e “o Gaspar” disputam a primazia sobre os 5800 milhões de euros de verbas comunitárias, enroladas no ego de Suas Excelências – o crescimento económico do País, coisa pouca que seja, bem pode aguardar...

Não serei eu a pedir impossíveis ao nosso primeiro-ministro, nem que tenha os “cojones” de Mariano Rajoy!... Mas um pouco mais de espinha e ordem na casa seriam elementares, não vos parece?...

12 comentários:

folha seca disse...

Caro Herético
É bom ver que ainda há quem os tenha no sitio.
Abraço
Rodrigo

jorge esteves disse...

Tenho para mim que as trilogias têm um não-sei-quê de alquímico, esotérico. E não me estou a referir as nossas mercearias maçónicas, não!
Isto a propósito dos ditos huevos, de um pouco mais de espinha e ordem na casa.
Apesar de (tri)lógico, não estás a pedir um niquito demais, não?...


abraço

lino disse...

Os nossos nem "tomates" têm, quanto mais "cojones"! E se não se põem a pau a Alemanha manda para cá um comissário para gerir os fundos do QREN!
Abraço

Maria disse...

Não aprecio o Rajoy, mas aplaudo 'los cojones que tiene'.
Por cá nem soberania nem independência. Fizeram deste país capacho para o casal Merkozy limpar os pés.

Beijos, em dia de festa nossa!!!

jrd disse...

Só tu é que me convences a "admirar" aquele reaccionário do Rajoy. Mas só um bocadinho e durante pouco tempo.

Abraços

Manuel Veiga disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Manuel Veiga disse...

JRD,

não admiramos Rajoy, certo.

mas eu tenho um "fraquinho" por Espanha. e julgo que no caso Rajoy foi "mais que o leme"...

abraço

Mar Arável disse...

Há tomates e cojones

Por cá a seca não ajuda
nunca ajudou

São disse...

Só há uma coisa de que discordo : para afirmar que uma mulher tem coragem não é necessário ter como referência o homem.

Quanto ao resto assino por baixo.

Um abraço

AC disse...

"Cojones", o nosso PM?
Meu amigo, não se pode pedir a alguém que mostre o que não tem.

Abraço

jawaa disse...

Acho que temos tomates com fartura, o problema é a seca; e os que são bem regados, vão pregar para outras freguesias...!
Abraço

► JOTA ENE ◄ disse...

hehe ... haja 'cojones' !!

Abraço!

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