sábado, maio 28, 2011

"NO CORAÇÃO DA TRÓICA..."

in Expresso, de 28.05.11

Talvez o “coração da tróica”
Seja a implosão das trevas
E a palavra expluda magnânima
E o indizível nome seja os nomes todos
Em frementes lábios…
E Wagner seja o impossível sopro
De napalm…
E o rio um mar de brasas.
Talvez a viagem dobre as sombras
E as ciladas sejam o rumor de febres
Apenas. Ou proféticas trombetas nas muralhas.
Apocalípticos sons de agora…
Talvez o poeta se cale
Ante as avenidas plenas
Da cidade…
Em verdade, em verdade
Antes labaredas e a escalada rubra das águas
Que parados barcos. Ou esverdeados limos
No sangue corrosivo desta hora…
  

sábado, maio 21, 2011

PROPOSTAS COM FUTURO...


Que nada falte aos que, pesarosos e vergados ao peso das sondagens, lamentam o "empate técnico" entre o PS e o PSD!...

Não estão condenados a ser empatas!
Deixo algumas boas razões para, em 05 de Junho, poderem desempatar ... 

domingo, maio 15, 2011

O TEJO SEGUE SEU CURSO...



Sob a estridência do sol a oliveira
E esta ilha de sombra. E a cigarra descuidada.
Arremedando a ceifa. Como se a cidade seara fora.
Apenas feira …

Os corpos distendidos embora.
Derramados na canícula. Inertes na envolvência dos sons. E Belém ao fundo…

O Tejo segue seu curso. Caravelas agora
São os hunos que passam. E pasmam.
E velharias coloridas. E o fado nosso que de eterno
Tem apenas a velhice. E a sornice…

Que venham pois os poetas da cidade
Com O´Neill à cabeça. Ou o Cesário. Ou a Pátria de Junqueiro
Pois embora não pareçam todos são
Quinquilharias…








segunda-feira, maio 09, 2011

FLOR CATIVA. ARDENDO...


Inóspito silêncio das casas abandonadas.
Cal de memória. Destruída. E o ruído dos dias
Roendo as entranhas. Como adventícias silvas…

Esbracejam aves nocturnas. Nas portadas
Signos e prenúncios de outrora. E os umbrais ainda.  
Fixos. Restos de carbonizados fogos.
Crepitantes outrora. Gesta de labaredas sem retorno…

Os passos agora são restolhar de répteis
No precipício do medo. E o teimoso melro ainda
Tecendo o ninho alvoroçado. E sua glória solitária.
E o absurdo canto em final de dia.

E a gota de água. E a flor cativa ardendo…

E a patética sinfonia que se entranha
No rosto das pedras. Abandonadas,
Tão nítidos sons que atormentam. Como se o momento
Fosse agora redemoinho. Em fronteira de delírio.

E a dor bálsamo procurado…

  






terça-feira, maio 03, 2011

EM LOUVOR DA BIODIVERSIDADE...


Semear é um acto de amor! Para a natureza, que é sábia e não obedece a princípios morais, o gesto de lançar sementes à terra tem a mesma densidade ontológica que a procriação humana.

Acto primordial da criação, portanto, em que a natureza, no seu equilíbrio cruel, se auto preserva. E que o homem, eufórico produtor de mitos, sublimou pela religião e pela cultura, arrancando, da profundeza das forças naturais, a sublime vertigem da poesia. E da História…

Quem algum dia teve o privilégio de observar a amorosa solicitude com que o semeador lança as sementes compreenderá os indissociáveis laços que vinculam homens e natureza na fecundidade de acrescentar vida à vida.

E nesta fecunda harmonia, a semente será o elo promissor de uma nova transmutação criadora. Neste sentido, a semente é um património comum de todos os homens que, no húmus da terra e no suor do rosto, domesticam a natureza e, pela destreza de seu trabalho, produzem os bens, com que se alimentam e alimentam outros homens.

Por outras palavras, a apropriação das sementes e a patenteação industrial da sua utilização, é um comportamento contranatura, que ofende as leis naturais e os princípios fundamentais da soberania alimentar dos povos.

Ou assim deveria ser considerando pelas instituições jurídico-políticas europeias que, pelo contrário, fazem da produção de sementes, até agora nas mãos dos agricultores, fonte de lucro e domínio de uma quantas empresas multinacionais.

De facto, talvez não saibam, mas Comissão Europeia aprovou a chamada “Lei das Sementes”, que prevê um sistema de controlo apertado com sanções para variedades de sementes não registadas.

A Comissão Europeia, está assim a proceder à restrição total das sementes tradicionais e à criação de um mercado de sementes, patenteadas pelas grandes empresas de biotecnologia.

Os agricultores deixam de poder utilizar as suas próprias sementes; a partir de agora, apenas poderão ser utilizadas sementes “certificadas” em favor de meia de marcas/empresas, acabando-se, também por esta via, as especificidades das culturas nacionais.

Tudo isto acompanhado de eficaz fiscalização e grossas sanções para quem se atrever a guardar sementes (ainda que certificadas) de um ano para o outro.

Enfim, não desanimem. O país continuará a criar nabos. Mas agora com selo da garantia da União Europeia…

Muito mais nabos, portanto! E todos bem formatados…
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Abaixo-assinado "Carta pela Biodiversidade" em 

   

       

Sem Pena ou Magoa

  Lonjuras e murmúrios de água E o cântico que se escoa pelo vale E se prolonga no eco evanescente…     Vens assim inesperada me...