sexta-feira, julho 24, 2009

Postal de Férias...

novelos de nuvens à janela
em sobressalto de gaivotas
guindastes debruçados sobre o porto
sonhando Índias...

e esta ausência decantada
no artifício do poema...

arde coração vadio
não acordes
deixa que a ilusão do sol sobre as águas
tinja de azul os dias...

assim em saudade de nada
como se a alma fosse toada da tarde
e a voz dolente dos sinos...


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Uns dias mais ausente do vosso convívio.
Espero a vossa compreensão...

Beijos e abraços

sábado, julho 18, 2009

Poema Furtivo...

Desdobra-se a tela
E o rosto
São os semicerrados olhos...

E água o gesto puro
Das linhas
Decifradas...

(A cor.
Não desejo
Ainda…)

Os tons breves e o silêncio
Que apenas os gestos
Gritam.

E a pele abrindo-se…

(A sede.
Não ainda
Arde...)

Desnuda-se o olhar
Lento.
Amacia-se o corpo…

(Cor e gesto
Ainda... )

E o fogo agora
Entrelaçando-se na forma
Adivinhada…

Volátil espera
De lume e água.
Furtivo sonho...

Caligrafia do Desejo...


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Boas férias (para aqueles/as que as desfrutam...)

Beijos e abraços.

quarta-feira, julho 15, 2009

Trezentas e trinta e três moedas....

"Por trezentas e trinta e três moedas dum euro
Foi decretada a tua humilhação.
Um patrão que não suporta a tua altivez
De fronte digna capaz de dizer NÃO
Quer dobra-te à sua pequenez
Incapaz de entender o que é ganhar o pão
Neste universo macabro de surdez.

Trezentos e trinta moedas dum euro o que são?
São dores infindas de quem não se sustenta,
De quem vive morrendo e se aguenta
Mas a espinha não dobra, isso não,
Porque a alma não se compra por tal preço
A quem sempre se opôs à servidão.

Trezentas e trinta e três moedas que envergonham
Se vergonha houvesse em tal patrão"...


in Silêncio Culpado

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Assim, por impulso solidário. Não quero ser culpado deste silêncio...

A Sâo que me desculpe...

segunda-feira, julho 13, 2009

Pacto Mundial para o Emprego

A Organização Internacional do Trabalho, durante uma Cimeira dedicada à Crise Mundial sobre o Emprego, que decorreu de 15 a 17 de Junho passado, à margem da 98ª Conferência Internacional do Trabalho, adoptou um “Pacto Mundial para o Emprego”.

Em Portugal, enredados que andam políticos e comunicação social nas “miudezas” da crise, nos escândalos caseiros e nas “cristianas” epopeias, que nos projectam “como os melhores do mundo” o assunto passou. A única referência digna de nota terá sido a evocação feita por Manuel Carvalho da Silva, Secretário-geral da CGTP, num dos últimos “prós e contras” da Televisão pública.

Por duas vezes, o reconhecido sindicalista trouxe o assunto à colação, em abono das suas teses de que não são os salários, nem o emprego com direitos, os causadores crise, mas pelo contrário que a crise económica se resolve no reconhecimento da dignidade do trabalho.

Em vez da selva neo-liberal do trabalho precário, redução de salários e aumento da carga horária, como defendem os tenores do nosso capitalismo doméstico e o respectivo coro de acólitos, uma mudança de paradigma se impõe, erguendo-se a valorização do trabalho, à escala mundial, como eixo determinante da superação da crise...

O Pacto Mundial para o Emprego propõe uma série de medidas como resposta à crise, que os países podem adaptar à sua situação e necessidades específicas. São necessárias acções urgentes para impulsionar a recuperação económica e a criação de empregos, ao mesmo tempo desenvolver as bases para uma economia global mais ecológica, equilibrada, justa e sustentável...

De acordo com a actual doutrina da Organização Internacional do Trabalho a saída para a crise exige rupturas com as práticas políticas dominantes de fundamentalismo financeiro, pautadas em Portugal, como em muitos outros países, por processos de gestão danosa, de manipulação financeira e casos de corrupção, enquanto que os trabalhadores estão colocados perante a mais alta taxa de desemprego das últimas décadas e perante crescentes carências sociais.

Uma globalização justa impõe que se afirmem valores de universalidade e de multiculturalidade, se reestruturem e se façam funcionar órgãos de regulação financeira e se valorize o trabalho e o sector produtivo, com atenção particular às pequenas empresas

Neste contexto, é indispensável que os governos nacionais assumam novas políticas que se materializem, designadamente, numa outra utilização da riqueza, orientando-a para o investimento útil a toda a sociedade, o que, naturalmente, implica o combate à especulação financeira e aos paraísos fiscais.

E, noutro plano,

Uma regulamentação do trabalho que incorpore dimensões económicas, sociais, culturais e políticas, em que a contratação colectiva e os acordos sociais, não sejam meros instrumentos de submissão dos trabalhadores aos paradigmas e objectivos da economia neoliberal.

Como se compreende tal implica a não-aceitação da redução dos salários dos trabalhadores e forte combate à precariedade, à insegurança e instabilidades no trabalho que foram agravadas pelas revisões flexibilizadoras da legislação laboral feitas nos últimos anos.

A melhoria progressiva dos salários dos trabalhadores de todo o mundo e uma mais justa distribuição e redistribuição da riqueza constituem assim objectivos sérios da OIT, sobre promoção do “trabalho digno” e, reconhecidamente, agora também como instrumento decisivo de ultrapassagem de crise.

Bom seria que, em Portugal, neste período que se aproxima de eleições, os partidos políticos e os portugueses em geral se mobilizassem na base deste Pacto Mundial para o Emprego, que longe de constituir programa político revolucionário, exprime, no entanto, um corpo de ideias de grande actualidade e mérito.


Pacto Mundial para o Emprego

terça-feira, julho 07, 2009

Uma conversa na net...

Abri janela e surgiu, assim, com ambiguidade do seu nome - Gwen.

Não sei se o som gutural, se o artifício do “W” a insinuar-se em vaga sofisticação de quem domina línguas germânicas... Certo é que não lhe resisti e cliquei...

Popular sim, revelava-se!... De resposta afiada na ponta dos dedos, saltitava, com mal disfarçado frenesi, de nick em nick, solícita, por vezes, outras vagamente agastada, quando um ou outro introduziam, no discurso anárquico, conotações eróticas. Em rigor, nada a distinguia, porém, na teia daqueles discursos cruzados, na sala de chat!...

Chamei-lhes discursos?! Melhor fora nomeá-los como poeira barulhenta em arremedo de sentido. A não ser, claro, a persistência daquele nick na retina, fatigada por um dia de trabalho...

Segui, portanto, mecanicamente, a rotação das conversas e... pronto! Aqui vou eu direito à sua janela. Os cumprimentos da praxe, blá...blá...blá... e, de rajada, anunciou categórica, que gostava de ler...

Sorri, intimamente, do despropósito e a atirei, com alguma indolência:

- “ E o que lês tu, Gwen”? ...

- “ De tudo, leio de tudo; mas gosto de literatura neo-realista!”...


Acordei então do torpor e, entre irónico e interessado, lancei um pouco sarcástico:

- “Talvez Paulo Coelho, não?!”...

Surgiu-me, assim, naturalmente, o nome do escritor da moda, pois, como expoente de literatura pronta digerir, seria facilmente reconhecível... e adequada à conversa!..

Que não, que conhecia o nome, mas a sua preferência ia para escritores sul-americanos...

- “Como assim, Gwen? ” - carreguei a ironia: - “não gostas de brasileiros?!”...

- “Não é isso! – apressou-se a esclarecer: - “quando refiro escritores sul-americanos tenho presentes, sobretudo, Gabriel Garcia Marques, Vargas Llosa e Isabel Allende...”

E eu a dar-lhe com os brasileiros:

- “E então o Jorge Amado e os seus “Capitães de Areia” e a celebrada “Gabriela, Cravo e Canela”, não te dizem nada, Gwen?.. E até o nosso Ferreira de Castro com sua “Selva”?

Desses escritores, especialmente dos portugueses, pouco sabia, mas que eu teria oportunidade de brilhar, recomendado alguns...

- “Quem sou eu Gwen, para recomendar seja o que for!... Para mais tenho sérias dúvidas que algum dos nossos escritores actuais queira ser classificado como neo-realista...” - soletrei, com letras mal batidas, em melancólico sorriso...

- “Mas há uns anos atrás, sim - acrescentei – “haviam uns senhores que de bom grado se assumiam como tal. Ainda tive o privilégio de conhecer alguns...”

- “Deves então ser muito velho” - atirou-me, em desafio irónico...

- “Claro que sou, Gwen!... Carlos de Oliveira, Alves Redol, Soeiro Pereira Gomes extinguiram-se com os últimos dinossauros - retorqui – “resta-me a convicção, porém, que como dinossauros poderosos deixaram algumas pegadas...”

Adivinhei um sorriso de simpatia e afoitei-me:

- “Mas que razões levam uma mulher, que gosta de literatura sul-americana, a identificar-se com o estranho nick de Gwen?... Não haveria por aí nomes mais de acordo com o teu gosto literário”?...

- “Olha que não”... - resposta imediata, como se aguardasse a pergunta - “Gwen” é diminutivo, de “Gweneviere”; ora, como saberás, Gwenviere é uma figura central na lenda do Santo Graal”. Não era o que esses “teus” escritores perseguiam”?!...

Confesso a perplexidade!Quem imaginaria?!... A lenda de “Camelot” assim atirada numa conversa virtual, que sentido faria?...

Porém, avancei no jogo :

- “Mas como sabes Gwenéviere destruiu a Távola Redonda e o “Graal” ficou cada vez mais distante... Tudo por culpa duma mulher – acrescentei - que não foi capaz de cumprir os seus deveres de rainha ...”

E, em desafio:

- “Que farias tu Gwen, no lugar dela?!... Entre o amor e o dever qual escolherias?...

- “Sem dúvida o amor”!...- afirmou, categórica.

E eu, a insinuar-me:

- “Dizes isso porque, com certeza, não és casada e não podes, portanto, colocar-te no papel de Gweneviere...”

- “Claro que sou... Ora que presunção a tua!” - ripostou.

E, um pouco irritada:

- “Quem destruiu a “Távola Redonda” não foi o amor casto de uma mulher. Desfez-se por estupidez dos homens, que mediram a transcendência da missão pela mesquinhez do ciúme...”

Subjugado pela lógica das palavras (ou dos sentimentos?) que me caíam no écran, julguei-me no direito de dizer, em vaga comiseração:

- “Talvez a “Távola Redonda” já não fizesse sentido!...Talvez os seus cavaleiros deixassem de acreditar no Graal para se baterem apenas pelo amor de uma mulher!...”

- “És pessimista ou estás nostálgico, amigo?...”- replicou.

Pressenti fervor, no lado de lá do écran:

- “O “Graal” está inscrito no coração dos homens e viverá enquanto não for conquistado o reino da liberdade para todos...”

Claro que é uma banalidade!... O certo, porém, é que a autenticidade da resposta tocou a minha corda sensível, sempre pronta a soltar-se...

Julgo que a pergunta seguinte (se fosse na vida real) sairia com a voz embargada:

- “Que fazes na vida, Gwen?” - soltei, não sei se em esforço de auto controle, se motivado por verdadeiro interesse...

Passaram uns segundos (com o peso de horas em tempo real) e resposta chegou, cristalina:

- “Sou operária... operária gráfica!...”

Ruíram, então, todos os meus artifícios... Acarinhei a cálida emoção e balbuciei:

- “Uma operária. uma operária na net!...”

- “E que fazes aqui, Gwen: uma operária gráfica?!" - perguntei movido, então, por verdadeiro desejo de compreender.

- “Estou sem trabalho, na prateleira e em alguma coisa hei-de gastar o tempo!... A net é uma forma de não morrer completamente estúpida...”

Pasmei, então, perante a insólita (?) realidade que me tombava na mesa de trabalho: -uma operária, pagando o preço das novas tecnologias e a subverter, com a vida vivida, a “ordem das coisas”...

Encaixei, por isso, a vaga provocação:

- “Que farias no meu lugar? Irias, certamente, bajular o patrão para teres algo para fazer...”

E, em altivez de mulher, certamente abusada na sua consciência:

- “Mas comigo fia mais fino!... – quem me explorou todos estes anos tem agora que me aguentar até eu querer!"...


(Pobre "intelectual" que te presumes, por vezes, meu caro narrador! Que grandeza nesta determinação em nada fazer!... Que vingança histórica!...

Que silogismo jurídico, que cartilha política ou ciência sociológica te poderão enquadrar, Gwen?... Que força ou que destino se encobrem na ambiguidade dessa teimosia?... Gostaria acreditar que transpostas contigo, como símbolo, a aurora indefinida da nova época que desponta...

Gostaria!... Mas vá lá saber-se, Gwen?!... Por isso te deixo estas linhas, como um registo de emoções, talvez como sintoma de esperanças perdidas... Porventura como prenúncio de vida (um novo Graal?) na banalidade do quotidiano, que a net transfigura. Ou entorpece...)

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Este texto tem mais de uma dezena de anos. Do tempo da novidade das novas tecnologias e da reconversão industrial, que fizeram milhares de vítimas e que, de alguma forma, anteciparam a crise económica e social presente.

A conversa é verdadeira. A heroína é pura ficção. E qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência...

sexta-feira, julho 03, 2009

Os Sinais e as Coisas...

Fecundemos então as palavras
Na decifração dos sinais que habitam
As coisas ainda por dizer...

Em cada nome há sempre um rasgar de águas
Uma placenta que arde
E o grito surdo do barro sob os dedos
Talhando o nexo ora encoberto na sombra...

E deste lado de nada onde o poeta se agita
Na palavra inominada, a espera. A palavra outra.
A que demora. A que em trânsito se liberta.
Amplexo agora de movimentos inversos
Em que o Verbo se faz sarça. E lume...

Assim o dia. E o bago em bocas pregoeiras.
E as palavras (des)encontradas.
E as emoções aladas em cascata de sentidos.

E seus destinos...


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Bom fim de semana. Beijos e abraços...

Sem Pena ou Magoa

  Lonjuras e murmúrios de água E o cântico que se escoa pelo vale E se prolonga no eco evanescente…     Vens assim inesperada me...