domingo, abril 26, 2009

Celebremos a Palavra liberta...

Profundas as raízes que balbuciam futuro
No olhar desprevenido da criança
Sobre os ombros do pai de punho erguido
E a rubra flor aberta aos dedos frágeis
Adivinhando mar nos cânticos
Descendo avenidas. E povoando as praças...

Ritmo de barcos em vésperas de faina...

Talvez a hora seja este rumor frio
E o arrepio da madrugada
Antes do desflorar das pétalas e das verbenas
Que os homens inventam em seu cálido abraço.

Cobrem-nos bem sabemos véus de tule
Nevoeiros carregados de passado morto
Que se insinua nas dobras da alegria
E na atmosfera dos sonhos com que bêbedos de azul
Exorcizamos a fome, o medo e a tragédia desta hora côncava.

Inquietos são os rios do tempo e as marcas no rosto...
Porém a hora talvez seja o adejar vento antes das chuvas...

Soletremos então em coro o abecedário de Maio.
Feito de memória e luta. E de indomáveis esperanças.
Poesia pura.

Celebremos a Palavra liberta.
E o cântico polifónico do Trabalho...


Viva o 1º de Maio.

sexta-feira, abril 24, 2009

25 de Abril, Sempre!




Amanhã é dia 25 de Abril e esta data comemora-se na rua em festa e em luta. Em Lisboa, o desfile comemorativo da Revolução inicia-se às 15 horas, no Marquês de Pombal e, após descer a Avenida da Liberdade, culmina na Praça do Rossio. As comemorações são promovidas por dezenas de personalidades e associações cívicas e políticas que subscrevem o apelo para a participação no desfile.

No documento, realça-se que celebrar Abril através de um grande desfile popular “traduz o apego e a vitalidade que o ideário democrático encontrou nos portugueses, pelo que trouxe de concreto na instauração das liberdades, na soberania nacional, na elevação das condições de vida do povo, na política de amizade e paz entre os povos”.

Realçando a grave crise que afecta o País e o mundo, o apelo destaca que o sistema capitalista, no seu estádio neoliberal, “parece ter entrado em ruptura”. Confrontada com esta situação, acrescenta-se, a Humanidade atravessa “um momento de perplexidade, indignação e angústia”.

Perante a “passiva tolerância dos poderes políticos”, a especulação financeira sobrepôs-se ao investimento produtivo e “os direitos conquistados durante gerações, pelos trabalhadores, foram gradualmente postos em causa pela alteração das relações de trabalho” e pela deslocalização sistemática das empresas. “O desemprego e a precariedade alastraram-se simultaneamente com a desigualdade empobrecimento», destaca-se no texto.

O apelo sustenta ainda que da situação actual “ressalta a evidência de que, uma vez ultrapassada a tempestade, nada poderá continuar na mesma”. E para que isto suceda há que “manter o espírito aberto à assumpção de novos paradigmas comportamentais e políticos”. Inclusivamente manifestando a “disponibilidade para enterrar as velhas ideias que, durante tanto tempo, foram apresentadas e vendidas, pelos beneficiários do sistema, como a versão mais genuína da modernidade”.

Reafirmando que a crise “não poderá servir de cobertura para perpetrar arbitrariedades e violências contra os trabalhadores, nem tão-pouco para absolver quaisquer caprichos ou incompetências do poder”, os signatários do apelo salientam que é “apenas no quadro da democracia e na linha da Constituição de Abril” que poderão ser encontradas as soluções de que Portugal necessita.

Viva o “25 de Abril”!...

domingo, abril 19, 2009

Lenços brancos em vez de toalhas...




Como se sabe o eng.º Sócrates anda de toalha ao ombro desde que se tornaram evidentes a gravidade da crise económica e financeira e as dolorosas consequências das políticas de direita que têm vigorado, no nosso País, há mais de três décadas. A metáfora da toalha, invocada no último debate na Assembleia da República a propósito da situação na Qimonda, é uma incursão nos domínios do boxe, com a qual se pretende significar a persistência em atingir o objectivo de “salvar a Quimonda”. Atirar a toalha ao chão seria desistir do combate...

Ora, não sendo previsível que o nosso primeiro ministro goste de ser sovado e levado as cordas, a avaliar pelo que se passa no País, dir-se-ia que a toalha se ergueu, na persistente acção do primeiro ministro, como a instrumento decisivo de combate à crise. Por outras palavras, o primeiro-ministro nada faz, ou nada pode fazer, mas ergue a toalha, como símbolo de determinação. Enfim, uma refinada mistificação, como é seu timbre!...

Se não vejamos. A Qimonda, que recebeu do Governo português largas centenas de milhões de euros terá tido também uns tantos milhões de lucro, que foram lestamente despachados para a Alemanha, dias antes da declaração de insolvência. O que fez, nesta emergência, o governo de Sócrates? Nada que se saiba. Quando muito terá puxado da metafórica toalha e limpado o suor provocado por tamanha ingratidão, mas em breve a terá recolhido e enrolado, enquanto centenas de trabalhadores recebiam guia de marcha para o desemprego...

E no caso da Opel da Azambuja, lembram-se? um exemplo tido como de sucesso e de elevada produtividade, beneficiária também de milhões de euros de dinheiros públicos, que como se sabe foi deslocalizada para outras paragens em vista ao saque de novas benesses e na mira de mão-de-obra mais barata. O que fez o Governo? Atirou a toalha ao chão? Nem pensar!... Desta vez o Governo de Sócrates, segundo consta, arregaçou as mangas, fez voz de durão (salvo seja), rodou a toalha por cima da cabeça e voltou a aconchegá-la ao pescoço para assim se confortar das lágrimas dos trabalhadores traídos, despedidos e sem perspectivas de futuro...

Como se vê ter uma toalha dá muito jeito!... E se, comprovadamente, não serve para enfrentar a crise, certamente que servirá (mais não seja) para limpar as mãos da inoperância política. Aliás, tendo em conta as mais recentes previsões do Banco de Portugal, que apontam para uma quebra do PIB de 3,5% este ano, é natural que a toalha do Engº Sócrates, agora que se aproximam os pleitos eleitorais, seja desfraldada como ícone dos feitos grandiosos deste governo.

O que seria bem feito...

Entretanto, aquele que dizem ser a eminência parda do Governo Sócrates, o ilustre sociólogo Augusto Santos Silva, que antes do o ser já era comentador político ao serviço dos interesses que hoje promove como governante, num momento de poderosa reflexão teve, em tempos (Público, 8-9-2002), uma iluminação prodigiosa ao preconizar “o PS não deve afirmar-se nem pró nem contra o capitalismo...” Uma espécie de limbo político, ou uma neutralidade piedosa, para convencer ingénuos...

Desbragado oportunismo, digo eu, que ilustra a personagem e define a matriz de um partido. Levada à letra tal sentença, o PS “dá para os dois lados” (nada de mal entendidos), dependendo da ocasião e dos ventos políticos... Com tal “ideologia” e com semelhante “ideólogo” se cumpre o desígnio das políticas de direita, pois nunca, desde o 25 de Abril, os grandes interesses capitalistas foram tão obstinadamente protegidos como hoje, por um partido que não é “nem pró nem contra o capitalismo”...

Em contraponto, não falta quem, pavoneando coloridas plumas de esquerda, se apreste a branquear o ramalhete das políticas de direita, dando de barato a reserva institucional devida ao País que o elegeu por duas vezes como Presidente da República. Em nome da esquerda e dos seus valores... Longe vão esses tempos, não é Dr. Sampaio?!...

São lenços brancos a esvoaçar, em vez das toalhas, é o que está a precisar esta gente...

terça-feira, abril 14, 2009

Si pudiera vivir nuevamente ...

"Si pudiera vivir nuevamente mi vida
en la próxima trataría de cometer más errores.
No intentaría ser tan perfecto, me relajaría más.
Sería más tonto de lo que he sido
De hecho tomaría muy pocas cosas com seriedad.

Sería menos higiénico; correría más riesgos,
haría más viajes, contemplaría más atardeceres,
subiría más montañas, nadaría más rios.
Iría a más lugares a donde nunca he ido,
tendería más problemas reales y menos imaginarios.

Yo fui una de esas personas que vivió sensata y
prolíficamente cada minuto de su vida,
claro que tuve momentos de alegria,
pero si pudiera volver atrás, trataría de tener solamente
buenos momentos.

Pero si no saben, de eso esta hecha la vida, solo de
momentos; no te pierdas el de ahora.
Yo era uno de esos que nunca van a ninguna parte sin un
termómetro, una bolsa de agua caliente, um paraguas y un
paracaídas; si pudiera volver a vivir, viajaría más
liviano.

Si pudiera volver a vivir comenzaría a andar descalzo a
principios de la primavera y seguiría así hasta concluir el otoño.
Daría más vueltas en calesita, contemplaría más amaneceres
y jugaría com má niños,
si tuviera outra vez la vida delante.

Pero yá vem, tengo 85 años y sé me estoy muriendo!..."


Jorge Luís Borges

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Em castelhano, por pudor em traduzir. E todo mundo lê...

quarta-feira, abril 08, 2009

CÂNTICO DA PÁSCOA

Que querei daqui, vós, portentosos sons
Que do Céu vindes procurar-me no pó?...
Soai antes onde há corações bons
A mensagem bem a oiço, porém, falta-me a fé
E milagre é da Fé o filho amado...

Àquelas esferas não ouso aspirar
Donde me vem a boa e doce nova;
Mas quando o som se renova
À vida novamente quero voltar...

Então descia em mim a benção
Do Céu, na paz do Sábado, serena
E a voz dos sinos, de presságios plena;
E era um prazer fogoso a oração...
Um indizível anseio me impelia
A floresta e campos correr
E, entre lágrimas ardentes, sentia
Que em mim um mundo começava a nascer...

O Canto veio lembra-me os jogos de infância
Da Primavera a festa livre da alegria;
O ânimo infantil sustenta-me a lembrança
Que do derradeiro passo me desvia...

Ressoai, ressoai doces hinos do Céu!
Lágrima, corre! ... Terra, aqui estou eu!...


Johann Wolfgang Goethe - in "Fausto"

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Boa Páscoa.
Procurarei acompanhar, na medida do possível, as vossas edições.

Beijos e Abraços

sexta-feira, abril 03, 2009

Persistência do Azul...

Persiste o azul como se a boca fosse vulcão
Em transe de soltar-se. E o vermelho indício
Apenas. Ou ténue labareda em asas de cetim...

Sopram os olhos brasas. Também azuis.
Como se a hora do voo fosse de espera
E a borboleta apenas o corpo da brisa
Que de tão suave se queima e queimando
Se arrisca no canto fugidio da chama...

Flores de lume nos traços de azul vestidos.
Como farrapos de céu que em dor se abrem.
E em desejo se cumprem sobre as horas
Caprichosas do voo no esplendor dos dias...

E deste lado o fio e a seda dos laços
Em que cativo me solto. E me comovo.
No azul que bebo em coloridos tragos...


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Bom fim de semana!
Beijos e abraços

quinta-feira, abril 02, 2009

Verdades e Mentiras

... e os nomeadooooos são:

1. Pela a originalidade da (não) participação, que assenta que nem uma luva: aluaflutua

P'rá mentira ser segura
e atingir profundidade
tem que trazer à mistura
qualquer coisa de verdade.


António Aleixo

2.
Pela originalidade do comentário: Às vezes,Maria

3.
Pela(s) verdade(s) em cheio: Frioleiras

4.
Pela aproximação à(s) mentira(s):Silêncio Culpado e Maria

quarta-feira, abril 01, 2009

Verdade e Mentira

O meu amigo JRD propõe-me, em divertido jogo dos blogs, que misture verdade com mentira e, a meu respeito, diga 6 verdades e 3 mentiras...

Andei a esvoaçar a volta do próprio umbigo e conclui que:

. gosto de ler na cama
. sei falar Esperanto
. tenho pavor em andar de avião
. gosto do mar batido
. prefiro o Outono à Primavera
. prefiro cães a gatos
. não frequento barbeiros nem cabeleireiros
. fui jornalista profissional
. gosto de falar em público.

Caso para dizer que a verdade me dissimula, a mentira me revela...

Peço desculpa por não dar sequência...

Sem Pena ou Magoa

  Lonjuras e murmúrios de água E o cântico que se escoa pelo vale E se prolonga no eco evanescente…     Vens assim inesperada me...