sexta-feira, outubro 03, 2008

Rumor da língua...

Sou pedra e água. Ou talvez o rumor da língua
Na escalada da palavra. Catedrais apenas visíveis
Na inocência dos sentidos. Ou nos silêncios
Sinfónicos de nada.

Claro-escuro de mim em cada sílaba. Vendavais
Que buscam apenas o pretexto e a tempestade
No rosto inocente das palavras por dizer.
E assim me espraio.

Inaudíveis estes sons de um canto impuro
Que se esfuma em mistério
Como o decair da tarde ou o zénite de sol
Ou o gosto acre da terra depois da chuva...

Agarro-me à solicitude das palavras
Em que órfão mergulho. Quais reflexos doirados
Alimentando-se das entranhas do vento
Sem outra glória que não seja a emoção alada
E o fio ténue que as segura...

Estou salvo.

Seminais estas veredas em que me digo.


..........................................................................

Bom fim de semana. Beijos e abraços...

27 comentários:

éme. disse...

Vinha deixar beijos.
Em boa hora aqui chego.
Pedra e água é pedaço de rio, é movimento, é força, é vida. E o silêncio é aquele abraço perene dos caminhos.
As palavras que se não dizem...

Vinha só a correr para deixar beijos e encontro aqui uma razão grande para me deixar ficar. Quieta. A deleitar sentidos nas letras soltas, nos suspiros alados, nestes sentidos outros que se vislumbram serenos...
("desejadamente") serenos

Bom fim de semana!!

C Valente disse...

gostei por aqui passar
saudações amigas

Maria disse...

Talvez o rumor da água
sobre as pedras dos caminhos
Ou talvez, apenas...

Bom fim-de-semana
Beijos

Tinta Azul disse...

pedra
água
vento...

Homens de palavra[s]

:)

luis lourenço disse...

A palavra[poética]redime porque na natureza primordial- aqui a tua-saboreia a força do vento e a solidez do granito...inimitável.

Abraços, meu caro.

~pi disse...

palavras jangadas e fios

tudo provisório

até à coragem,



beijo



~

mdsol disse...

Sim, o claro-escuro que somos, sempre na procura de outros limites.

Tu escreves mesmo muito bem. Gosto, quando assim o mostras!
:)

batista disse...

seminal e belíssimo poema, Poeta!

um abraço fraterno.

Leonor disse...

sem gostar muito de poesia pela sua hermeticiddade (isto existe assim dito desta maneira?)gosto particularmente das tuas de entendimento fácil
beijinhos

Jorge Castro (OrCa) disse...

Estás preparado para seres o convidado de uma sessão das Noites com Poemas?...

Frioleiras disse...

bjnh domingueiro, heréticozinho....

Dona Sra. Urtigão disse...

Quisera que as palavras me servissem, fossem passiveis de uso, com esta maestria. Como não, só posso admirar e desfrutar dessas belezas, de como voce as transforma em sentimentos, em representação de ideias.

manhã disse...

modo lírico...não lhe sabia o dote e o entusiasmado pleito!

Graça Pires disse...

"Agarro-me à solicitude das palavras
Em que órfão mergulho".
Belo este seu poema.
Um abraço.

pront'habitar disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
pront'habitar disse...

só as palavras por dizer são inocentes. e, por vezes, nem essas.

Peter disse...

Salvo pelas palavras. Poesia séria e escorreita.

Votos de boa semana.

mariam [Maria Martins] disse...

Herético,
é sempre bom, voltar aqui, sentar-me comodamente, baixar o volume da música... e lê-lo...

...estou a sentir o cheiro da terra molhada...

muito belo este poema.

boa semana
um sorriso :)

mariam

tulipa disse...

OLÁ
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Evasões disse...

O seu rumor da língua propicia a evasão. De seminais palavras vestido permitiu o voo em suspiros alados para uma dimensão extra-terrena.
beijinho

vida de vidro disse...

E que a solicitude das palavras não te falte, nunca! Bom ler-te, sempre.

jrd disse...

A beleza da poesia em suspensão.
Excelente!

ROSASIVENTOS disse...

[ de que servem estas sólidas paredes acumuladas?,

vou agora ali num instante que morro crente que o maior amor é uma vez dois e, por outro lado, bem maior que dois e sempre, afinal, sempre rio virgem, mas enquanto de abraço nem sombra vou ali e volto ou volto que nem que não volte logo se não verá.

Licínia Quitério disse...

É um prazer renovado ler a tua Poesia.

Um abraço.

M. disse...

Poderoso este poema. Gostei mesmo muito.

Isabel Victor disse...

Amén ...


iv*

Eme disse...

Mantenho a mesma opinião passada uma semana. Lido em prosa gosto muito deste teu dizer.. em que te dizes, pedra e água.
Não se desfaça o verbo.

*

Sem Pena ou Magoa

  Lonjuras e murmúrios de água E o cântico que se escoa pelo vale E se prolonga no eco evanescente…     Vens assim inesperada me...