terça-feira, setembro 30, 2008

Palavras Outras...



1.“Os fiéis do Deus-mercado parecem ter descoberto de repente as virtudes do Estado Social, devidamente adaptado aos valores da religião do lucro a qualquer preço, e que, em vez de apoiar os pobres, subsidia os ricos. Já tem um Papa. Chama-se Henry Paulson e cabe-lhe a duvidosa glória de ser um dos inventores do capitalismo de casino que agora bateu no fundo provocando a crise financeira que abala a Terra Prometida e arredores. Depois de 30 anos de especulador na Wall Street, Paulson chegou a Secretário do Tesouro e é dele a feliz ideia de pagar com 700 mil milhões dos contribuintes as dívidas e “activos tóxicos” acumulados por empresas falidas, acrescidos de “compensações” milionárias aos gestores que as levaram à falência, assim salvando fortunas como a sua, calculada em 500 milhões de dólares, a maior parte em acções da também falida Goldman Sachs. No Estado Providência neoliberal, quem paga quer as crises quer as soluções das crises do mercado são sempre os contribuintes. Lá como cá, chamam eles a isso (meter os lucros ao bolso e cobrar ao Estado as perdas) “auto-regulação” do mercado”.
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2.“Descubro pelos jornais o que, com boas e históricas razões, já sabia: sou eu (isto é, você, leitor) quem vai pagar os milhares de milhões de dólares de dívidas que levaram o banco Lellman Brothers (LB) à falência. A acrescer à factura que já nos estava (a mim e a si, leitor) a ser cobrada pelo também americano colapso do crédito hipotecário de alto risco (“subprime”, dizem eles) e às que iremos pagar a seguir pela cascata de falências financeiras que, depois dado LB, aí virão. A beleza do capitalismo especulativo na sua versão selvagem e neoliberal é que, quando um especulador global espirra, nós, os mal agasalhados, apanhamos uma pneumonia. E quando, como eles também dizem, “a economia real arrefece” nós é que tiritamos de frio. Parafraseando o Papa, “o amor (deles) ao dinheiro é a raiz de todos os (nossos) males”. Fosse eu dado a coisas “new age” e veria nesta tumultuosa espécie de neo-Grande Depressão uma mão astral. Não é que, algures além-túmulo (e, pelos vistos, aquém-túmulo) os maléficos utopistas Marx e Engels estão nesta altura a comemorar os 160 anos do Manifesto Comunista?”



Manuel António Pina - in "Por Outras Palavras" - Jornal de Notícias

19 comentários:

Maria disse...

:)))
Bem escolhido para um post!
Ouvi há bocado na sic "volta Marx estás perdoado", a propósito....

Beijos

~pi disse...

grande manuel antónio,
acutilante e lúcido!!

ai o povo o povo
( como eu ouvi há dias num filme com muitos anos a ser rodado...

hoje: hoje.



beijo



~

luis lourenço disse...

"O mar bate na rocha e quem se lixa é o mexilhão"[está caro].
No bartoon-Público de ontem ou anteontem-o Zé povinho fala com o burguês: você está triste? Não me diga que também foi vítima do capitalismo? Tempos difíceis...

abraços, meu caro

... disse...

E eu só baixo a cabeça e sorrio tristemente, infelizmente trabalho na área de Mercado de Capitais... e doi profundamente todos os dias ver desmoronar gigantes com pés de barro, o que me doi são os milhares de pessoas que são "soterradas" pelos escombros, com ou sem culpa pelo aconteceu...

é uma lição de vida, outra, mais uma vez e ninguém aprende

São disse...

Onde está a coerência e avergomha desta gente?!
Fica bem.

Maria Laura disse...

Vergonhoso e, de alguma forma, previsível, se tivermos em conta o "cavalgar" do capitalismo selvagem. Agora, paga o mundo inteiro, sobretudo aqueles que menos podem pagar.
Como sair daqui? Será que alguém sabe, para além destas medidas destinadas apenas a salvar os mais ricos? Parece-me que navegamos ao sabor do vento. E ele enfurece-se, tantas vezes...

jrd disse...

Este papa tóxico fez-se anunciar com fumo negro.
Abraço

hfm disse...

Li os comentários e pouco mais há a acrescentar. São sempre os mesmos a pagar só que desta vez e a doer fortemente.

Nilson Barcelli disse...

O problema é que ninguém tem uma solução acabada para a economia mundial.

E os que a têm (economia planificada, por exemplo) ninguém acredita neles (talvez nem os próprios...).

Salvar falências com o dinheiro dos contribuintes é péssimo.

Não o fazer ainda é pior.

Um abraço.

MS disse...

... eu adoro ler Manuel A. Pina! Nada escapa ao seu 'conceituado' golpe de vista sobre a sociedade!

Sensibilizada pelo teu olhar em 'fragmentos'!

Boas músicas!

Um beijo,

mariam [Maria Martins] disse...

passei só p'ra dizer olá!
no fim-de-semana voltarei com mais tempo e ler "tudinho", tenho tido uns dias CHEIOS de trabalho e à noite, estou demasiado cansada para vir aqui... sorry!

bom resto de semana
um sorriso :)
mariam

Licínia Quitério disse...

Seria bom se os gastos com a comemoração não saissem dos bolsos tão gastos dos tão desprezados.

Um abraço, Amigo.

Graça Pires disse...

Se não fosse preocupante, dava para rir...
Um abraço.

batista disse...

...

apesar do óbvio, o capital conter o cerne do que temos de pior, estimulando a competição ao invés da cooperação, o consumismo que devora pessoas e o próprio planeta... infelizmente, como uma ameba gigantesca, o capital engole e/ou anestesia consciências, por meio da mídia massificadora, induzindo-nos a pensar que "ruim com ele, pior sem ele"... não fosse a resistência de parcela da população que não se deixa seduzir/enganar pelo discurso suícida do capital(ismo).

pront'habitar disse...

sem mais nem menos e nem sei porquê pois não vem nada a propósito (deve ser o meu miolo que não anda bem) lembrei-me, que estupidez, do nome jardim gonçalves. mas porque me lembraria eu do nome dum jardim, assim sem mais nem menos!? ainda por cima nem sei se existe algum jardim com este nome. esta cabeça não anda a bater bem!

Oliver Pickwick disse...

Nesse negócio de papa, eu não confio nem naquele lá, do Vaticano. :)
Um abraço!

dona tela disse...

Tenho um novo projecto.
Dê-me a sua opinião, se faz favor.

pentelho real disse...

se eu pudesse mandar...

Jorge Castro (OrCa) disse...

Já me faltou mais para esgravatar um nicho nalguma parede cá de casa, para ali colocar as obras de alguns satinhos da minha devoção.

Adivinha lá quais seriam dois deles?...

Um abraço.

Sem Pena ou Magoa

  Lonjuras e murmúrios de água E o cântico que se escoa pelo vale E se prolonga no eco evanescente…     Vens assim inesperada me...