domingo, julho 29, 2007

De vez em quando... um poema!

"Daqui, desta Lisboa...

Daqui desta Lisboa compassiva
Nápoles por suíços habitada,
Onde a tristeza vil e apagada
Se disfarça de gente mais activa;

Daqui deste pregão de voz antiga,
Deste traquejo feroz de motoreta
Ou do outro de gente mais selecta
Que roda a quatro a nalga e a barriga;

Daqui deste azulejo incandescente,
De soleira da vida e piaçaba,
Da sacada suspensa no poente
Do ramudo tristolho que se apaga;

Daqui, só paciência, amigos meus!
Peguem lá o soneto e vão com Deus..."


Alexandre O´Neill - Poesias Completas - Assírio & Alvim

Continuem a rebolar "a nádega e a barriga"...
Mas cuidado com o sol. Não se queimem!...

Beijos e abraços

segunda-feira, julho 23, 2007

EXCLUSIVE CLIP - Not All Digits Created Equal

uns são mais "iguais" que outros...

"Sicko" - Michael Moore novamente ao ataque...

Michael Moore surpreendeu os seus admiradores e adversários com um novo filme documentário, intitulado “Sicko” que, entre outros prémios internacionais, foi galardoado em Cannes, no seu mais recente festival.

A nova película é uma devastadora denúncia da (ausência) de sistema de saúde nos Estados Unidos da América do Norte. Como se sabe, aquele País, a maior potência económica do Mundo, com astronómicos montantes em despesas militares, não possui um sistema público de protecção na doença.

Os cidadãos são por isso empurrados para sistemas de saúde privados, que engordam as companhias de seguros; decorre, portanto, que mais de 40 milhões de pessoas não têm qualquer protecção na doença, pois não possuem rendimentos que lhes permita pagar um seguro de saúde. E, dos 250 milhões pessoas que estão abrangidos por seguros privados, muitos são abandonados pelo próprio sistema a que pagam, por vezes durante décadas, pois não há qualquer controle público sobre as seguradoras.

- “Deixam-nas fazer o que lhes dá na real gana” – diz Moore referindo-se às companhias de seguros e acrescenta: “Cobram o que querem; não controle governamental e, francamente, não organizaremos o nosso sistema até que eliminemos a intervenção dessas companhias”.

Deveras interessante é a opinião de Michael Moore sobre relações das companhias seguradores com os Clinton e, em especial, com a pré-candidata do Partido Democrático à Presidência dos EE.UU, Hillary Clinton: “as seguradoras estão metidas no seu bolso e ela no bolso das seguradoras...”

Em conversa com Amy Goodman, da “Democracy Now”, Michael Moore, fala da sua ida clandestina a Cuba, acompanhado com doentes norte-americanos para tratamento naquele País, expressando a sua admiração do sistema de saúde cubano.

E refere, a propósito, que Cuba tem mais médicos por habitante que os Estados Unidos e que a escassez de médicos no seu país é devida, em grande parte, porque a AMA (Associação Médica dos EE.UU) não quer que haja mais alunos nas escolas de medicina, porque havendo menor número de médicos, maiores são os proventos dos existentes. E acrescenta:

O sistema de cuidados sanitários cubano impressionou-me muito. Toda a gente que lá levamos estava extremamente feliz com o tratamento que recebeu”. “Porém –acrescentou – “o sistema de saúde cubano assenta sobretudo na prevenção, pelo que o que fazem resulta bem sem terem que gastar um montão de dinheiro em cuidados sanitários”.

Michael Moore mantém também grande admiração pelo sistema de cuidados saúde do Canadá, no continente americano e, na Europa, pelos sistema de saúde da Grã Bretanha e da França que considera, provavelmente, o melhor sistema que conhece.

A terminar, Michael Moore refere dados conhecidos da Organização Mundial de Saúde que colocam os EE.UU em 37º lugar da raking mundial, atrás da Costa Rica e desabafa:

- “É patético para o país mais rico doMundo que isto seja possível...

Michael Moore's Sicko on Democracy Now -part 1

"... é patético para o país mais rico do Mundo!"

quinta-feira, julho 19, 2007

Outras Leituras: Erasmo de Roterdão - "Elogio da Loucura"

(...)

“Graças a mim - a Loucura – podeis ver por toda a parte homens que atingiram a idade de Nestor e já mal parecem homens, balbuciando senis, desdentados, de cabelos brancos, ou calvos – melhor nas palavras de Aristófanes “sujos, curvados, desprezíveis, enrugados, calvos, desdentados, impotentes". No entanto, continuam tão contentes com a vida que, na ânsia de “serem jovens”, um pinta o cabelo, outro cobre a calvície com uma peruca, um outro usa dentes postiços, eventualmente de porco, outro ainda é louco por uma rapariga e supera qualquer jovem na sua patetice amorosa. Qualquer velho esquelético com pés para a cova pode hoje casar com uma jovem de tenra idade, mesmo que esta não tenha dote e esteja pronta para satisfazer outros – é prática comum, algo de que quase se vangloriam.

E é ainda mais divertido ver mulheres velhas, que mal podem arrastar os pés, com ar de cadáveres, que parecem ter-se erguido da campa. Continuam a dizer “a vida é boa”, sempre com cio, “farejando o bode”, como dizem os Gregos e contratando, por meio de grandes somas de dinheiro, algum jovem atraente. Passam a vida a pintar-se, a mirar-se ao espelho, a depilar as partes púbicas, expondo os seios flácidos e tentando despertar o desejo frustre com vozes trémulas e gemidas, enquanto bebem, dançam entre as mais jovens e rabiscam os seus bilhetes amorosos.

Tudo isto provoca o riso geral por ser uma absoluta loucura; mas, entretanto, vivem plenamente satisfeitas, numa doce fantasia e é a mim, a Loucura, que devem toda a felicidade. Quem considera isto é ridículo deve considerar se prefere passar uma vida adocicada por esta loucura ou andar à procura do proverbial ramo para a forca.

O facto de uma tal conduta ser mal vista em nada afecta os meus loucos, pois, ou não se apercebem de que algo esteja errado ou, se tal acontece, não dão importância. Se uma pedra nos cai na cabeça, provoca sérios danos, mas a vergonha, a desgraça, o opróbrio e os insultos não fazem mal, se deles tivermos consciência. Caso contrário, não nos sentimos minimamente beliscados. Que mal é que faz sermos vaiados por toda a assistência, se nós próprios nos aplaudimos? E só a Loucura torna isso possível... “

(...)

Erasmo de Roterdão – in “Elogio da Loucura” – Ed. SorpPress – pags. 47 e 48
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Sejam loucos, mas sem exageros, peço-vos. Pois também a Loucura já não é o que era: a “Silly Season” normalizou-a!...

segunda-feira, julho 16, 2007

A Saga Europeia do Eng. Sócrates

Investido na presidência da União Europeia, o primeiro-ministro de Portugal foi a Londres. Ficou então a saber que o senhor Gordon, o novo primeiro-ministro da Grã-bretanha, não aceita sentar-se à mesa com o senhor Robert Mugabe, presidente do Zimbabué, no decurso da almejada Cimeira Euro-Africana. E se a sua recusa levanta algum problema diplomático, ele, senhor Sócrates, que trate de o resolver... Enfim, reminiscências coloniais. Very british...

Foi, agora, a Paris o nosso engenheiro. Convidado de honra das comemorações do “14 de Julho” – o dia nacional de França, evocativo da “Tomada da Bastilha”. Vimo-lo - milagre da globalização! - a passar revista às tropas e sorridente na tribuna, glorioso, presidindo, lado a lado, com o Presidente da República Francesa e o Presidente da Comissão Europeia – outro, como ele, Eng. Sócrates, um ilustre português. Momento raro na história pátria: ”novos mundos ao Mundo” se perfilam nos coevos peitos ilustres lusitanos...

Porém, eu que, da nossa epopeia passada, guardo os avisos do “velho do Restelo”, receio bem que a amistosa pancadinha na face, recebida da aristocrática mão de “son ami” Sarkozy, traga ao nosso Eng. Sócrates o bíblico sabor do beijo de Judas.

Ou seja, que o nosso amável Eng. Sócrates seja empurrado, pela impoluta mão gaulesa, para o calvário dos Balcãs e o vespeiro da independência do Kosovo, onde os interesses da França não são exactamente coincidentes com os interesses da Alemanha e, sobretudo, com a vontade de Bush...

Como se sabe, a questão da Kosovo, é consequência da desagregação da Jugoslávia, estimulada pelas potências ocidentais, após a morte de Tito. E hoje é lança apontada ao coração da Sérvia...

Anos atrás, a Alemanha, não dando cavaco aos seus parceiros comunitários, foi lesta a reconhecer a Croácia, sua antiga aliada nazi na 2ª Guerra Mundial. E, a partir daí, a tragédia da guerra nos Balcãs e os diversos genocídios, entre croatas, sérvios e bósnios, bem presentes ainda na memória da actualidade.

Em 1995, os Estados Unidos para imporem a paz na Bósnia convenceram Milosevic a retirar o tapete aos sérvios bósnios, o que aconteceu; em troca, diminuiu a pressão sobre a Sérvia no Kosovo...

Dois anos mais tarde, porém, a NATO, empurrada pelos Estados Unidos, bombardeou a Sérvia e desfez-se de Milosevic. E o Kosovo, província autónoma e berço da nacionalidade sérvia, passou a ser administrado, por um sucessão de representantes do Secretário-geral das Nações Unidas, por entre mútuas limpezas étnicas entre sérvios e kosovares, agora controladas pela força de armas internacionais.

Encurtando razões. No xadrez de interesses e no jogo de sombras que, historicamente, se têm dirimido nos Balcãs, a França tem sido aliada permanente da Sérvia. E se for coerente com os seus tradicionais assomos de independência, não aceitará de bom grado o diktat de Bush sobre uma solução para o Kosovo que não tenha o acordo da Sérvia.

Entretanto, os tempos mudam, mas os interesses prevalecem. A União Europeia pretende afirmar-se e o Eng. Sócrates gosta de fazer peito. Boas razões para um convite. Porventura, não foi um rei de França (herético eheheh) quem disse que “Paris valia uma missa”?!...

segunda-feira, julho 09, 2007

O outro lado de Lu(L)a - ou o negro custo do etanol...

Com pompa e circunstância, tivemos em Lisboa a primeira cimeira União Europeia-Brasil. Vimos, na televisão, o senhor Lula tu cá tu lá com o senhor Sócrates, aquele lembrando a sua ascendência lusa, no ilustre apelido de “Silva”, enquanto que este empolgado, como é seu timbre, tecia elogios sobre elogios, como quem semeia pétalas... Uma banalidade, portanto...

Um e outro, porém, irmanados, quais cavaleiros de um novo Graal, nos benefícios de bio combustíveis, prosaicamente reconhecido como etanol... E aqui chegamos ao ponto.

Será que a proclamada “revolução energética do século XXI” (Lula dixit) não irá tornar ainda mais difícil a vida de milhões e milhões de pessoas em todo o Mundo? E quem o diz, não é apenas a voz, até agora, ignorada de Fidel Castro, mas também o insuspeito “Economist”, publicação de culto dos liberais britânicos.

Segundo o periódico britânico, o almejado substituto de petróleo poderá trazer mais problemas à Humanidade do que aqueles se propõe resolver. Desde logo, porque o etanol não é tão “verde” e tão barato, quanto afirmam, sobretudo, quando extraído a partir do milho ou de outros produtos agrícolas.

Conforme a publicação, a produção de etanol consome tanta energia quanta a que produz, absurdo apenas “justificado” pelos faustosos subsídios concedidos às multinacionais da agricultura nos Estados Unidos.

Na mesma linha de preocupações, estão a OCDE e a FAO, que responsabilizam a produção de bio-combustíveis pelo aumento exponencial dos preços dos produtos agrícolas. Três mil milhões de pessoas, nos países mais pobres do Mundo, sofrem as consequências no aumento do preço do milho e, por arrastamento, dos restantes cereais, como o arroz e o trigo.

Nos próprios Estados Unidos, começam a levantar-se vozes críticas. Dois investigadores da Universidade de Minnesota alertam que a opção pela produção etanol pode desencadear “consequências devastadoras para a segurança alimentar mundial”.

Os académicos em causa afirmam que encher o depósito de um automóvel vulgar corresponde a 200 quilos de milho, o suficiente, em teor calórico, para sustentar uma pessoa durante um ano. Uma revelação assustadora, quando metade da humanidade vive sub nutrida, com rendimento inferior a dois dólares por dia...

Mas, também, no Brasil, o sindicalista Lula da Silva tem muito para se coçar, no seu afã de caixeiro-viajante internacional dos bio-combustíveis. E contas a prestar ao seu Povo, certamente.

Afinal é bem possível que as vantagens comparativas da cana-de-açúcar na produção de bio-combustíveis assentem, sobretudo, na sobre exploração do trabalho. De facto, no dia seguinte à cimeira, em notícia circunstanciada, o insuspeito “Público” (5 de Julho – Quinta Feira) referia exactamente o trabalho de escravo como o “lado negro da produção do etanol, com ritmos de produção mais duros do que os impostos aos escravos no sec. XIX”.

Conforme a notícia do referido jornal, um estudo da Universidade Estadual Paulista, concluído em Maio, esclarece que a procura de maior produtividade, motivada pela procura mundial de etanol, leva a ritmos de trabalho infernais, a que os trabalhadores não resistem. Só este ano, terão morrido 19 trabalhadores no Estado de S. Paulo, onde se localiza a maior área de cultivo de cana-de-açúcar.

E, como se fora pouco, os trabalhadores ficam “penhorados” num carrossel diabólico de “escravidão por dívidas”, em que as dívidas ao fazendeiro são sempre maiores que o salário... Os cinco mil milhões de euros das exportações brasileiras de etanol, têm afinal o elevado preço de vidas humanas e do trabalho de escravo. Sem escândalo...

Claro que tal não pode justificar-se pela ascendência lusa do senhor Lula. Ou pelo seu, certamente honrado, apelido Silva. Ou pela universalidade da Língua Portuguesa. Mas que a produção de etanol nos remete para o tempo dos negreiros, parece não existirem dúvidas...

Com as mesuras do senhor Sócrates e o sofisticado cinismo da anafada Europa!...

(Um regresso. Quase. Até breve...)

domingo, julho 01, 2007

De Vez em Quando...

... um poema!

“Como explicas, Hípias, que os antigos sábios
Todos se tenham afastado dos negócios públicos?!...”


“Perguntei, porque também eu calei
A minha voz pública de outrora. Cidade
Perdoa-me a ausência e o rancor
Perdoa que a minha voz agora
Não nomeie teus cais de embarque,
A dor, a miséria, a cúpida opressão.
Ainda amo, neste exílio de paz, a mesma Paz.

Sábia, não sou. Calei-me porque
As memórias minhas e a voz sozinha
Também pertencem ao Todo, em harmonia.
Ainda amo a Pátria, feita de lugares, parentes
Dos próximos, e do vento, meu semelhante...”

Fiama Hasse Pais Brandão.

Estarei ausente do vosso convívio por uns dias...

Não (se) calem (n)a Cidade!...

Sem Pena ou Magoa

  Lonjuras e murmúrios de água E o cântico que se escoa pelo vale E se prolonga no eco evanescente…     Vens assim inesperada me...