quarta-feira, março 14, 2007

No rescaldo de uma visita (indesejada)

O Presidente dos Estados Unidos da América, George W. Bush terminou vista de alguns países à América Latina. Depois de seis anos de ausência, bem como de quaisquer políticas benéficas para a região e perante às medidas repressivas contra milhões de emigrantes mexicanos e centro-americanos, (nas quais sobressai o recente construção do “muro da vergonha”, na fronteira sul do Texas), o Presidente Bush não teve pudor em afirmar, antes de partir, na Câmara Hispânica de Comércio, que a América Latina e os Estados Unidos estão ligados por fortes "interesses mútuos e laços crescentes que têm ajudado a paz e a prosperidade da região”.

Porém, como referem comentadores latino-americanos, o senhor Bush deveria estar a pensar noutra América Latina, porque – como a vista comprovou – a actual despreza-o profundamente...

Vejamos.

Bush viajou pelo Brasil, Uruguai, Colômbia, Guatemala e México, bem sabendo ele que, nos próprios Estados Unidos, o seu poder político se esfuma, dia a dia, enredada como está a sua administração em múltiplos escândalos políticos e legais.

Por outro lado, a actual política externa norte americana, cujo máximos expoentes são o atoleiro da invasão do Iraque e a permanente matança no Médio Oriente, para além das persistentes intervenções na política dos países sul-americanos, fazem de Bush um dos presidentes norte-americanos mais odiados em toda a América Latina, como aliás em todo o Mundo.

Não admira assim que, conforme revelam sondagens publicadas, 85% da população do Brasil e 80% da população da Argentina repudiem Bush e o modelo económico liberal que ele representa...

Como se sabe, a chegada de George Bush a América do Sul provocou reacções fortíssimas de repúdio em todos os países visitados - Uruguai, Brasil e Colômbia, e também a Guatemala e o México – todos estrategicamente escolhidos pela“permeabilidade” dos governos daqueles países aos desígnios de Washington...

Proclamadamente, porém, Bush foi à América Latina a assinar acordos bilaterais com os países visitados. Entretanto, a nossa comunicação social apressou-se a destacar a importância do acordo com o Brasil em matéria de “bio combustíveis”, que, sem se negar importância ao assunto, tem o picante de uma pirraça a Hugo Chávez e ao petróleo venezuelano.

Tudo leva a crer, porém, que a preocupação fundamental de Bush esteve, sobretudo, na busca de alternativas para o fracasso da instituição da “Área de Comércio das Américas", (ALCA), que a Argentina, na última cimeira do MERCOSUL, enterrou definitivamente... Como se sabe, a ALCA é uma “invenção” norte-americana para contrapor à integração económica da América do Sul no quadro do Mercosul.

Paralelamente à visita de Bush, o presidente de Venezuela, Hugo Chávez, deslocou-se à Argentina, onde encabeçou, o repúdio sul-americano pela digressão George W. Bush, numa vibrante manifestação anti-imperialista, convocada pela Associação as Mães de Praça de Maio. E, como se compreende, teve também importantes conversações com o Presidente daquele País, Néstor Kirchner.

Nas reuniões com Néstor Kirchner, foi ratificada a “aliança estratégica” entre os dois países, Venezuela e Argentina... Como foi sublinhado, na oportunidade, aquela aliança destina-se não apenas a promover o interesse mútuo dois países subscritores, mas pretende sobretudo o benefício de toda América Latina, sendo de destacar, no seu âmbito, o funcionamento do “Banco do Sul”, os acordos em matéria alimentar e energética e a independência perante Fundo Monetário Internacional e os Estados Unidos, conforme foi sublinhado por Kirchner.

Chávez, no seu melhor estilo, assegurou que Bush “tem um plano visível e outro invisível, com o que intenta lavar a cara do império, mas é demasiado tarde para isso”...

Quanto ao celebrado acordo com o Brasil sobre os “bio combustíveis”, Chávez foi claro: “O tema do etanol é irracional e anti-ético; é imoral pretender substituir a produção de alimentos para seres humanos e animais para alimentar os sector (energético) dos países ricos; resulta agora que vamos produzir alimentos para os automóveis e ocupar enormes extensões de terra para esse cultivo...” Enquanto na América do Sul se continua a morrer de fome, deduz-se...

Difícil não lhe dar razão, acrescento de minha lavra...

12 comentários:

Anónimo disse...

Difícil? Essa agora. O Chavez tem sempre razão! E a pinta como este grande senhor neutral e democrata, na sua luta gloriosa contra o imperialismo, elimina a oposição? É um tipo claramente insuspeito, sem margem para dúvidas!

Manuel Veiga disse...

uma vista indesejada, porque anónima. paga em dólares, certamente! "sem rosto", como é tom adequado nas "operações sujas"!...

Anónimo disse...

beijo.... nice to see you again.....



-----------------.


:)))))



até pensava que me tinha abandonado.:)))))


piano.

Subtil disse...

América Latina e os Estados Unidos estão ligados por fortes "interesses mútuos e laços crescentes que têm ajudado a paz e a prosperidade da região”.

Deixa cá ver.... Droga? Caça ilegal de especies em perigo? Violação sistemática dos ecosistemas em busca de "novos" remédios"? Mão de obra barata? Uso e abuso das belezas naturais, algumas delas menores de idade?
Não me tentem.... não puxem por mim..... Eu cá dou razão ao Sr. Chavez!!!!

Beijinho
Cris


Ps: Sei que eles uivam. Cresci com um. Sei o que são e o que fazem, e tb o que sentem. São lindos!

vida de vidro disse...

Não tenho dúvidas nenhumas quanto aos motivos que levaram Bush a fazer esta viagem. E concordo contigo em grande parte do teor do teu artigo. Quanto aos "bio combustíveis", já não sei se concordo assim com essa facilidade toda. Chávez tem razão em muita coisa mas perde credibilidade, frequentemente, pela forma um tanto demagógica e populista com que expõe as suas ideias. Não me parece que as coisas sejam assim tão lineares nem que o uso dos "bio...", que só vai tender a aumentar, tenha como contraponto a fome na América Latina. Bom seria que a América Latina não se deixasse explorar nessa matéria e encontrasse aí uma fonte de desenvolvimento. Claro que não é a visita de Bush que vai contribuir para isso... **

PintoRibeiro disse...

Mal da Latina América quando a oposição a Bush é liderada por Chavez ou Fidel...abraço,

Cris disse...

Desculpa se houve algum mal entendido, mas não te intrepretei mal, aliás também gosto muito do teu blog, gosto dos assuntos que trazes à ribalta. Fico contente que gostes dos meus lobos, e que gostes do meu blog. Perdoa se as palavras, por serem escritas e não faladas, perdem ou ganham sentidos que não são os pretendidos.

um beijinho "ternurento"
Cris

JPD disse...

Mesmo simbolicamente, sem reais efeitos diplomáticos ou de relacionamentos bilaterais estritamente económicos, o que Bush anda a tentar com estas viagens é atenuar o fracasso do Médio Oriente e a arrogância dos Neocons.
Mais nada.
Tanto nos EUA como de resto, em todo o Mundo, o que se desja impacientemente é a eleição do novo presidente americano.
Um abraço

Dafne disse...

Olá
Passei para dar um olá e dizer que está tudo bem. Muito trabalho, muitas responsabilidades profissionais. Fica bem e já agora um bom fds....
BJ

Nilson Barcelli disse...

Olha que eu, apesar de por vezes discordar de ti, não sou pago em dólares ou noutra moeda... hehehe...
Na minha modesta opinião, a iniciativa do Bush foi irrelevante, já ninguém fala dela e, na prática, não vai ter quaisquer consequências. Porque ele já está de "pés para a cova" e porque mesmo que os bio-combustíveis fossem uma opção estratégica dele, não o é dos grandes interesses económicos instalados nos EUA.
Bom fim-de-semana.
Abraço.

Manuel Veiga disse...

Nilson,

não perdoas o "deslise"... rsss

sabes que aprecio os teus comentários. porque "sabes discordar",também.

nada a ver, portanto, com o "incidente" !

abraços

Vladimir disse...

Para si o que é o destino?

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